A haitiano Jean Malko Joseph, 31 anos, estudante de administração da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), mora há sete anos no Brasil e já tem registrados três boletins de ocorrência por agressão física e verbal por preconceito. Na última terça-feira (5), ele conta ter sido novamente vítima: com uma corrente, um homem em Chapecó bateu nele após ter feito ofensas raciais.
Malko J, como prefere ser chamado, conta que estava passeando pela cidade com a namorada e o cachorro quando foram até um supermercado. Ela entrou e ele ficou do lado de fora, já que estava com o animal. Nesse momento, um homem se aproximou em uma bicicleta.
"Um homem começou a se aproximar de mim, uns 40, 50 anos, falando algo bem baixinho. Eu achei que eu conhecia ele e cheguei mais perto. Daí eu entendi que ele tava me xingando", disse Malko.
Segundo ele, o senhor começou a chamar de "macaco", "preto feio", entre outros xingamentos. "Quando eu perguntei se ele estava falando comigo, ele me disse que sim e completou: aqui é a minha terra e você tem que me respeitar. Você não é bem-vindo aqui", conta Malko.
Depois, o estudante disse que foi amarrar o cachorro num local próximo do supermercado e, quando virou para o homem novamente, ele já estava com uma corrente com cadeado na mão. "Foi muito rápido, não sei de onde ele tirou a corrente, mas ele partiu para cima de mim e eu segurei a mão dele, por isso que acabou batendo só na perna", conta.
Ainda conforme o rapaz, houve troca de empurrões e o homem chegou a cair no chão. A briga foi apartada por pessoas que estavam no local e o agressor foi embora sem ser identificado. "Não registrei o boletim de ocorrência ainda porque estou em final de semestre. Vou terminar as provas e vou fazer", fala Maiko.
Com o nome artístico Maiko J, o estudante tenta desabafar sobre as situações vividas em canções, como na música Sangue Vermelho. Ele diz ter dificuldade de conseguir emprego também por preconceito e trabalha como autônomo.
"É muito duro. Eu uso o rap para tentar trabalhar essas coisas através de poesia, da música. É muito difícil lidar com o preconceito e ele sempre vai existir."
Os três boletins de ocorrências anteriores foram registrados em Porto Alegre (RS) e Chapecó. Em Porto Alegre, o haitiano sofreu uma tentativa de roubo do celular num parque, mas as pessoas ao redor acharam que ele era o assaltante. Na mesma cidade, sofreu preconceito físico e verbal do dono da casa onde morava. Em Chapecó, ele afirma ter sofrido violência policial em um caso no qual não tinha envolvimento.